“Passarinho na muda não pia”
Segundo a reportagem do O Globo (link), essa foi a frase usada por Gaudencio Torquato, consultor e amigo do vice presidente Michel Temer para resumir a montagem da estrutura de Governo, se houver acolhimento do impeachment pelo Senado nessa próxima semana.
A frase foi usada num contexto que, entre outros assuntos, discutia a recriação do Gabinete de Segurança Institucional, GSI, conforme exigência do Exército neste remodelamento do Governo.
Entendemos que o General Etchegoyen, candidato anunciado ao cargo de ministro do GSI é um homem honrado e admirado, com histórico de gerações em obediência a serviço do País. É importante perceber que o extenso currículo e os atributos bilíngües não bastam na atualidade: é preciso entender que saber dialogar é ferramenta importante; que movimentos associativistas representam sim a voz de carreiras tão profissionais quanto as carreiras militares e que foram igualmente treinadas para servir ao mesmo País, e que estas carreiras estão dispostas a dialogar.
A pressão se mostra desleal nesse momento porque a recriação de mais um ministério – que foi recentemente extinto em função de sua ineficiência – não condiz com o compromisso declarado de Michel Temer em cortar cargos do governo, de forma a reequilibrar o orçamento brasileiro.
Essa pressão, na atual situação de incertezas e antagonismos, por si só mobilizou os Oficiais de Inteligência para dizer ao Excelentíssimo Vice Presidente Michel Temer e a quem mais quiser ouvir: a Inteligência de Estado deve estar acima dos interesses específicos de grupos de pressão. Não importa se os grupos de pressão são militares, comerciais, partidários, ideológicos ou qualquer outro.
A formação militar trabalha seus objetivos com o foco de inimigos e aliados. E assim o deve ser para militares. Mas para a Inteligência de Estado, a pluralidade brasileira exige uma postura sem paixões e sem pressões, não adversária ao tratar dos temas de interesse. A Inteligência de Estado não pode e não deve estar subordinada a quem pressiona, sob pena de não cumprir sua função da forma isenta como deve ser.
Concordo plenamente com o proposto….a Inteligência de Estado deve ser exercida e orientada por civis…ressuscitar o GSI e um retrocesso.
Na mesma linha do CND, do SFICI e, obviamente, do SNI, a ABIN manteve-se sob comando militar ao longo de praticamente toda a sua existência. Agora, os defensores da volta do GSI – ou, com a devida pompa e circunstância, do GSN – falam em “mudanças” nas práticas de inteligência, por supostas questões tanto de eficiência quanto de responsabilização (corrupção e afins). O que não parecem (ou, mais provável, não admitem) enxergar é que as práticas institucionais da ABIN foram desenvolvidas, em sua imensa maioria, sob a gestão de um comando militar. Afinal, há somente pouco mais de seis meses, a Agência encontra-se vinculada a uma pasta civil. Pensar que a vinculação a uma nova sigla militar (na conformidade dos últimos quase 90 anos) seria capaz de solucionar os problemas da Agência é o mesmo que, atribuindo ao governo Macri a responsabilidade pela inflação na Argentina, propor a volta do Kirchnerismo (que ocupou a casa rosada pelos 12 últimos anos) como solução!
A verdade é que, no Brasil, inteligência de Estado “civil” é um conceito com ainda pouca compreensão prática, pois apenas há pouco mais de um semestre (!) vivenciamos uma subordinação do órgão central dessa atividade a comando alocado fora da caserna. Em outras palavras: afora os últimos sete meses, nunca soubemos o que é fazer inteligência de Estado encabeçada por um civil no Brasil!
E, agora, querem-os convencer de ser devido o retorno ao cenário anterior, no qual se teriam originado as supostas problemáticas combatidas?!
Que, no (eventual) governo Temer, tenha-se clareza o suficiente para se enxergar não ser possível “resolver eventuais problemas” mediante a reprodução das mesmas condições que lhes permitiram a criação.